24 SUBMERSOS B , 1984 | Gravura, litografia | 50 x 35 cm 2. Numa janela vejo ele sendo linguado por outro macho. Por qualquer umnão importa. Eu só não deveria ter visto. Vou em sua direção pronto para atacá-lo, ele foge cor- rendo rindo. Na auto- estrada sigo ele num caminhão desgovernado. Não tem ninguém dirigindo aqui, eu não sei dirigir e me sento no volante. Como dar direção para esse trombolho maquínico que treme, ronca e atropela tudo em seu caminho? Saio da estrada, atolo em dunas brancas colossais. Onde ele se meteu? Se eu pegá-lo ele vai ver... Caminhar aqui é muito difícil, muito esforço para cada passo já que os pés mergulham na areia o sol ofusca re- fletido no mar que agora se recolhe e some, se esvazia. Silêncio. Uma sombra cresce ocultando o sol. Uma onda estoura tsunami e sou levado pelas águas. Ele não poderia fazer isso comigo, essa liberdade toda vai acabar me matando. No horizonte fumaça preta, plataformas de petróleo ar- dem, a fumaça me envolve preta depois vermelha. À deriva e agora cego flutuo abraçado em meu próprio corpo. João de Ricardo 1. O sol ofusca refletido sobre a lâmina d’água em braços tatuados barbas espessas marcas de sunga e bigodinhos pueris Eu entro nessa como posso, salto mortal, talvez uma das únicas peripécias cabíveis numa piscina cheia de ho- mens. Pés na borda arqueio meu corpo em direção ao azul e pulo. Um tempo que se estende e ao penetrar no líquido de cabeça fico suspenso. O enforcado. Um tempo longo vou deslizando em direção ao fundo não mais ciano agora preto e depois vermelho e depois silêncio. O que está acontecendo comigo? Cada vez quem salto desligo e religo sou desconectado, devo ter algum problema no cérebro. Ou são essas mãos que me recolhem e me trazem de vol- ta pra borda esvaziando meus pulmões respirando boca à boca.

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