28 COLUNAS , 1995 | Pintura, acrílica e verniz sobre tecido estampado | 201 x 136 cm Milton Kurtz é um artista singular, conseguiu unir as tendências da arte conceitual com a sua apurada téc- nica pictórica configurando-se como um dos principais nomes da arte contemporânea gaúcha da geração de 1980. Por isso, quando observamos algumas de suas te- las, identificamos a autoria imediatamente. Foi o que me ocorreu quando vi a obra Colunas (1995). Todos elemen- tos característicos de seu universo visual estão presen- tes: cores, temática e precisão técnica. As três colunas centrais apresentadas de forma hiper-re- alista fogem das representações de corpo com referen- cial a Pop Arte, recorrente em outras fases da produção do artista. Contudo, o processo de pintura é parecido. Kurtz possuía uma espécie de banco de dados onde frequentemente buscava inspirações para suas obras; guardava revistas, anúncios publicitários, quadrinhos e jornais. Para a obra Colunas , Kurtz utiliza a imagem da coluna vertebral retirada de um jornal (a imagem remete aos desenhos científicos), e a amplia em fotocopiadora. Ao transpassar a figura para a tela, Kurtz o faz através da pintura, um fazer laboral minucioso, no qual a pintura parece cópia - reproduzida em preto e branco como se fosse um xerox - completamente desprovida de expres- são gestual. A tela não é branca, muito pelo contrário, é um tecido estilo chita estampado com muitas flores e cores vibrantes. A mistura da figura principal com a estampa da figura fundo cria uma ilusão no espectador. Kurtz brinca com a espacialidade da tela, mostrando as ambiguidades da bidimensionalidade e também da arte mecânica gráfica versus o fazer manual. E vai além, utiliza uma estampa com um tecido rudimentar para dar suporte a uma pin- tura tecnicamente laboriosa. As três colunas justapostas criam uma verticalidade pró- pria na obra. Para mim, elas são três corpos que estão frente a frente. Remetem-me a um círculo, como se os corpos estivessem em comunhão em uma espécie de rito. A própria singularidade proposta pela técnica do artista proporciona essa ambiguidade que é a principal característica da obra de Milton Kurtz. Mel Ferrari
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