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13 EDUCA SESC 2018 tese, Harada afirma que para produzir assombro e maravilha diante de um“milagre”, a mecânica e a engenhosidade devem ser obrigatoriamente invisíveis (p.22). Há casos em que a mecânica é tão genial que acaba chamando mais a atenção do que o próprio efeito. No caso da arte mágica, o detalhe desconhecido é a causa do fascínio e da admiração. É o desafio do incompreensível. A partir do século 17, a arte mágica começa a se distanciar do conceito de bruxaria, os artistas passam a fazer uso dos movimentos da era das luzes, aproximando-se do racionalismo e da ciência. Saem das ruas e passam a frequentar os ambientes fechados. Porém, engana-se quem pensa que aprender mágica e realizar um espetáculo é um exercício apenas de ilusão. Pelo contrário, é trabalho duro, disciplina, persistência e criatividade. Para se tornar um grande mágico, talento é importante, mas o olhar, a dedicação e o treinamento fazem toda a diferença. “Quando não conseguimos ver com clareza como a experiência e o treinamento levaram uma pessoa a um nível de excelência acima da média, nossa reação automática é declarar que essa pessoa tem um dom inato”(DUCKWORTH, 2016, p. 49). Essa autora, no livro Garra: o poder da paixão e da perseverança , afirma ainda que desempenho e trabalho árduo, no fim das contas, são mais importantes que capacidade intelectual (p. 33). Na verdade, é com muito trabalho e dedicação que se conquista um bom capital cognitivo. O mágico David Blaine, em uma entrevista publicada no mesmo livro, explicou emocionado o seguinte: Como mágico tento mostrar as pessoas coisas que parecem impossíveis e acho que a mágica é muito simples, seja ela prender a respiração ou embaralhar cartas. É prática – treino (soluços) experimentação (soluços) enquanto suporto o sofrimento para ser o melhor que posso. Isso é o que a mágica é pra mim (p.136). De certa forma, tornar-se referência no exercício profissional não é consequência de um passe de mágica. Na educação, suportar a pressão gera um sofrimento capaz de preparar o profissional para a excelência e para resultados eficazes. Entendendo essa postura, a mágica acontece. Ou seja, aquilo que parecia impossível no primeiro momento, transforma-se em algo real. Vidas sendo transformadas pelo poder mágico do processo de ensino/aprendizagem. DESVENDANDO OS SEGREDOS Em certos casos, professores tornam-se seres imortais. Como afirma Rubem Alves, Ensinar é um exercício de imortalidade. De alguma forma continuamos a viver naqueles cujos olhos aprenderam a ver o mundo pela magia da nossa palavra. O professor, assim, não morre jamais (ALVES, 1994, p.04). É quando acreditamos no poder transformador da profissão que os nossos ensinamentos perpassam as gerações e deixamos um legado para a humanidade. Harada (2012) diz ainda que “o discurso da Arte Mágica se pauta em três aspectos gerais, em torno dos quais gravita seu imaginário e sua poética: o impossível, a ilusão e o secreto”. Na educação, assim como na mágica, o impossível está na dimensão do incompreensível, que desafia a capacidade de raciocínio lógico dos espectadores, chegando a gerar um estado de tensão, insegurança e incerteza acerca daquilo que os olhos veem. Nessa dimensão está o proibido desejado. É onde está a pergunta: por que não? Já a ilusão remete às fantasias, à criatividade e ao sonho. Remete àquilo que move o ser humano, como o momento da infância protegida no coração de cada sujeito. Na infância, transformações incríveis eram possíveis, como virar um super-herói e fazer de um pedacinho de madeira brinquedos e brincadeiras fantásticas por horas sem fim, alimentando a alegria e os encantos da vida. Por fim há o secreto, que mantém vivos o mistério, a curiosidade e as possibilidades ilimitadas em cada acontecimento. É aquilo que instiga e provoca. É o local em que os devaneios da mente humana passeiam e brincam. Como no momento em que, na infância, se procura algo que está escondido. Sabemos que está em algum lugar e não desistimos de procurar até encontrar. E quando se encontra, eis a mágica! No livro Criando Magia , escrito por um alto executivo da Disney, há o relato de um pequeno diálogo entre um médico e sua filha. Pergunta o pai: – Filha, o que você quer ser quando crescer? – Professora, papai. O pai pondera: – Mas querida, você não gostaria de ser médica, como eu? Os médicos são muito importantes. Se eles não existissem, muita gente ficaria doente e sofreria. – Mas, papai, sem professores não haveria médicos! (COCKRELL, 2009, p.124). A cada vez que a cortina se abre e a aula começa, essa é a visão necessária. Manifestar a grandiosidade e o empoderamento do ofício de professor, sem esquecer do compromisso da qualificação e da excelência no seu fazer pedagógico. É preciso superar o negativismo e o desânimo que têm imperado na profissão. É triste ver profissionais desmotivados, por vezes até falando de forma pejorativa de seu trabalho. Essa postura lança o ofício cada vez mais no abismo. [...] aquilo que parecia impossível no primeiro momento, transforma-se em algo real. Vidas sendo transformadas pelo poder mágico do processo de ensino/aprendizagem.
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