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17 EDUCA SESC 2018 trabalhado. A turma era dividida em dois grandes grupos e cada grupo recebia um baralho comum, no qual as cartas que saíssem vermelhas seriam o valor da própria carta como ponto perdido, e as cartas pretas como pontos ganhos (sendo o ás igual a 01, o valete igual a 11, a dama igual a 12 e o rei igual a 13 pontos). Cada equipe tinha um representante responsável por anotar a pontuação de 10 cartas retiradas de cada rodada, no total de três rodadas. Além disso, outro representante era responsável por passar o baralho para que as cartas fossem coletadas pelos integrantes sem serem vistas antes de serem retiradas. Esses representantes eram substituídos a cada rodada. Feito isto, os alunos faziam o saldo de pontos ao final de cada rodada. Nessa atividade, foi possível inserir conhecimentos a respeito do conteúdo, tais como: noções da existência de números negativos, que podem representar na atividade em questão a perda; sua localização na reta numérica, posicionando-se à esquerda do zero; valor relativo e absoluto desses números; comparação, além das operações de soma e subtração. Ao fim da atividade, ficou evidente que tudo aquilo que havia sido abordado e discutido não era novidade para os alunos, pois fazia parte de situações práticas do cotidiano. Aquele jogo, inclusive, não era desconhecido nem estava fora do cotidiano dos discentes, já que eles se envolveram com entusiasmo, participando discursivamente. Segundo D’Ambrósio (1998), “é importante recuperar a presença de ideias matemáticas em todas as ações humanas, pois há a necessidade de descobrir que existe uma forma matemática de estar no mundo” (p.21). OBESIDADE E SEDENTARISMO: UMA ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR Na turma do 6° ano do segundo segmento do Ensino Fundamental, preocupados com o grande número de alunos obesos e sedentários e percebendo também o interesse deles pelo assunto, os professores das disciplinas de Matemática, Ciências e Educação Física desenvolveram um projeto sobre obesidade e diabete infantil. Os alunos pesquisaram sobre as doenças em centros especializados, internet, bibliotecas e consultaram familiares e amigos. Os conceitos de obesidade e diabete e suas prevenções foram abordados na área de Ciências; na Educação Física foi desenvolvida a conscientização sobre a importância da prática esportiva para um corpo saudável; e na área da Matemática foi feita uma pesquisa estatística a respeito dos dados da população, além de outra pesquisa de receitas culinárias saudáveis, trabalhando com medidas de massa, volume, capacidade, transformações e relações dessas medidas a partir das medidas usadas diariamente pelos alunos como “um dedo de”, “uma colher de”, “uma xícara de” – conceitos que não são valorizados na escola. Dessa maneira, a atividade alcançou os objetivos de fazer com que os alunos buscassem a prevenção e a conscientização de seus familiares sobre tais doenças; levou ao questionamento dos hábitos alimentares e do modo de vida dos alunos e, principalmente, houve uma emersão de ideias matemáticas de maneira contextualizada, ou seja, tornou-se uma educação escolar numa perspectiva etnomatemática. O aluno foi o protagonista nesse processo de ensino-aprendizagem interdisciplinar, e todas as pesquisas giraram em torno de seus interesses, valorizando seu convívio social e cultural. Houve também um resgate de conhecimento popular, na medida em que buscavam receitas com seus familiares. Os estudantes trabalharam com autonomia na pesquisa matemática e na superação das eventuais dificuldades em sua prática e tiveram, de fato, experiências que proporcionaram a aquisição de conhecimentos de forma significativa. CONSIDERAÇÕES FINAIS A matemática tornou-se para os alunos, ao longo do tempo, uma disciplina complexa, distante da realidade e destituída de prazeres, dificultando o aprendizado e a compreensão dos conteúdos matemáticos, tão úteis e necessários a nossa vida. Procuramos propor uma nova forma de tratar a matemática no dia a dia das escolas. Dessa forma, a etnomatemática valoriza o conhecimento que o aluno traz para a sala de aula, proveniente de seu convívio social, fazendo-o tomar consciência do saber que adquire nas diversas experiências que vive nos ambientes em que interage. Podemos citar como exemplo os vendedores, pedreiros, artesões, pescadores, enfim, diferentes sujeitos cujas práticas sociais utilizam matemática, apesar de não institucionalizada, mas proveniente da sabedoria popular. Cada indivíduo tem na vida suas próprias raízes e heranças culturais. Normalmente, quando esse indivíduo chega à escola, há uma valorização dos conhecimentos escolares e uma desvalorização dos saberes populares aprendidos nos demais contextos sociais. Nesse cenário, a etnomatemática funciona como um processo de reconhecimento e valorização de culturas, procurando estudar os processos de geração e troca de conhecimento. Além disso, busca interligar os conteúdos matemáticos com a realidade dos alunos. E, por ser uma forma de recuperar e valorizar a cultura de cada povo, a etnomatemática é de fundamental importância para o ensino-aprendizagem da matemática.

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