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25 EDUCA SESC 2018 o processo de ensinar e de aprender. Os professores da educação infantil, especialmente, são adultos cheios de poética, de ludicidade, de sensibilidade. Não seriamessas as condições importantes para produção autoral? Refletindo sobre essa questão, penso que o ato de escrever, por vezes, é visto como penoso e dispendioso, talvez por falta de prática, talvez pelo não entendimento da sua importância.Talvez ainda pelo receio de assumirmos compromissos, já que no momento de escrita expomos nossas concepções, nos responsabilizamos, nos revelamos, deixamos parecer nossos entendimentos e incertezas. Segundo Freire (1996),“não fomos educados para olhar pensando omundo, a realidade, nós mesmos. Nosso olhar cristalizado nos estereótipos produziu em nós paralisia, fatalismo cegueira”(p.25). Precisamos criar nossas próprias histórias, trazer à luz nossas práticas, narrar a vida coletiva vivida entre professores e crianças nas escolas. Nesse aprendizado permanente de escrever e socializar nossa reflexão valendo-nos do diálogo comoutros, sedimenta-se a disciplina intelectual tão necessária a umeducador pesquisador, estudioso do que faz e da fundamentação teórica que o inspira no seu ensinar (FREIRE, 2008, p.80). O efetivo diálogo entre formação e prática pedagógica qualificada é urgente, para assegurarmos às crianças o direito de viver e conviver numespaço coletivo que as respeita, as escuta, as olha, as entende por meio das interações, brincadeiras, ludicidade e encantamento. Prática pedagógica qualificada aqui é entendida como relações de potência entre adultos e crianças, que se estabelecem cotidianamente através de respeito, empatia, igualdade e afeto. Conforme Freire (1995), “nessa concepção de educação, o educador é um leitor, escritor, pesquisador, que faz ciência da educação” (p.40). METODOLOGIA O que realmente traz efetividade, sentido e significado à formação e docência talvez seja algo relacionado ao desejo, à aspiração, ao querer, à vontade, à expectativa, ao enriquecimento dos sujeitos da ação educativa, os professores. E que comos desejos individuais e coletivos possam construir pontes entre esses dois eixos, que aprofundeme valorizemas experiências e os percursos de adultos e crianças de forma potente, comprometida e plural. Os professores, munidos de seus desejos individuais, precisam investir em seu ato autoral e genuíno de serempesquisadores de suas docências. Conforme diziaMalaguzzi (1989), (2) “émais fácil que um caracol deixe rastros do seu próprio caminho, de seu trabalho, que uma escola ou uma professora deixe rastro escrito de seu caminho, do seu trabalho”. CONSIDERAÇÕES FINAIS Acredito que o caminho é avançarmos para uma escola emque“a criança seja central, mas não o centro. As crianças vivemnummundo de interações. As crianças não são seres isolados, fazemparte de uma variedade de contextos humanos, sociais, culturais e históricos. O centro de ato educativo é uma rede intrincada de relações à qual a criança pertence”(FILHO, 2018). Que cada escola infantil seja um lugar de rede de relações entre adultos, crianças e famílias, para que nesse lugar os desejos coletivos caminhem para a efetivação de uma prática pedagógica que gere aprendizagens significativas, contextualizadas, respeitosas e afetuosas com e para as crianças. Aproximando-se do que faz e pensa, o educador, sujeito pensante, começa a praticar a autoria de sua reflexão, assumindo (...) a condução do seu processo (FREIRE, 1996, p.23). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FOCHI, Paulo. Afinal, o que os bebes fazem no berçário? Comunicação, autonomia, saber-fazer de bebês em um contexto de vida coletiva. Porto Alegre: Penso, 2015. OSTETTO, Luciana Esmeralda. Registros na Educação Infantil. Campinas: Papirus Editora, 2017. Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil, MEC, 2009. FREIRE, Madalena. Observação, Registro e Reflexão. Instrumentos Metodológicos I. 2ª ed. São Paulo: Espaço Pedagógico,1996. ZABALZA, Miguel A. Qualidade em Educação Infantil. Porto Alegre: Artmed, 1996. KAREN ELOÁ SILVA MOREIRA, coordenadora técnica da Educação Infantil do Sesc/RS, graduada pela PUCRS em Pedagogia, com especialização em Alfabetização e Gestão Escolar pela FAPA/RS. [kesmoreira@gmail.com ] 1  HOYEULOS, 2006, p.194 apud FOCHI, 2015, p.47. 2 Malaguzzi (1989) apud Hoyuelos (2006, p.195), Fochi (2015, p.48).

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