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27 EDUCA SESC 2018 Viver essa concepção é romper com muitas teorias. Nos seis anos em que estou como educadora da pré-escola na Escola de Educação Infantil do Sesc Carazinho, sempre tive uma preocupação com as crianças que estão na escola, em sua grande maioria, há três anos. Pensar na organização e nos espaços necessários para essa faixa etária é urgente. Mostro neste texto o relato do percurso que fui construindo junto com meus pares e com as crianças, as escolhas iniciais e as mudanças que fomos construindo ao longo desse tempo. As primeiras configurações foram pautadas por espaços mais estruturados como casinha, padaria, fantasias, jogos pedagógicos comprados, entre outros. Nesses espaços, muitas brincadeiras de faz de conta, interações, trocas, resoluções de conflitos e aprendizagens aconteciam, tanto para as crianças quanto para nós, educadoras, que aprendíamos com as crianças o que fazia sentido para elas. Os enredos que emergiam e as reconfigurações que se desenrolavam a partir dos contextos que organizávamos. Com o passar das nossas experiências com a configuração de espaços, sempre documentando a vivência das crianças, fomos percebendo que os brinquedos industrializados, com formas e funções pré-definidas, possibilitavam brincadeiras mais dirigidas, direcionadas, restringindo de certa forma a criação e a invenção das crianças. Os brinquedos, por muitas vezes, eram os mesmos durante os três anos em que as crianças frequentavam a escola. Foi a partir dessas inquietações que começamos a nos mobilizar para pensar sobre os espaços que elegíamos como potentes para as crianças da pré-escola: o que poderia ser diferente na sala? Que materiais aguçariam a curiosidade das crianças? Como construir um espaço novo, desafiador, inovador? Aos poucos, após muitas conversas, reflexões, pesquisas e trocas entre os pares, nos desafiamos a (re)significar os espaços que estávamos até então propondo, trazendo materiais de largo alcance para a sala, e lançar o desafio para todos, crianças e adultos. Desde o momento de eleger os materiais, arrecadá-los em quantidades necessárias para possibilitar as brincadeiras, até o momento da organização, houve contribuições de todos da escola. Esse movimento fez com que pudéssemos perceber também o quanto é importante pensar em equipe, trocando informações e dando condições para que os educadores também tenham protagonismo, afinal de contas, a proposta foi lançada por nós, no desejo de ver o que iria acontecer. OS ESTRANHAMENTOS INICIAIS Ao chegar à sala, as crianças e as famílias se depararam com arranjos de espaços diferentes daqueles que estavam habituados a ver na escola. Quando uma criança encontra um objeto novo, é possível que não brinque imediatamente. Verifica-se em suas ações uma progressão, que vai da descoberta e da simples manipulação até a sua utilização imaginativa. As propriedades físicas do objeto são encaradas como indicação de sua possível utilização, mas não constituem o início determinante do seu uso (KLYSIS; CAIUBY; FIGUEIREDO, 2004). Iniciamos disponibilizando para as crianças materiais como pedras, sementes de diversos tamanhos e formatos, pedaços de madeira, rolos de dimensões variadas, barbantes, potes, caixas, pinhas, embalagens, entre outros. De acordo com Horn (1998), “quanto mais rico e desafiador este espaço for, mais qualificadas serão as aprendizagens das crianças” (p.34). Conforme as crianças iam chegando, o estranhamento inicial foi dando lugar às descobertas, afinal de contas eram inúmeros materiais a serem explorados e, para muitos, isso tudo não era familiar, já que estavam habituados a brincar com brinquedos e espaços estruturados.
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