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EDUCA SESC 28 2018 Organizar a sala a partir dessa perspectiva possibilitaria ao grupo descobrir e explorar novas possibilidades de brincadeiras, experimentar o toque e o uso dos materiais. O objetivo era criar intervenções no espaço para que as crianças pudessem se ambientar às narrativas de diferentes maneiras, aomesmo tempo emque se alimenta a interação, a criação e a expressão de sentimentos e ideias. Tendo consciência de que, nos dias de hoje, as crianças têm poucas oportunidades de criar seus próprios brinquedos, construir, reconstruir e planejar sua brincadeira, pensamos que organizar os contextos nesse formato era uma experiência nova e enriquecedora, pois seriam, ao nosso olhar, momentos de criações. Nos primeiros encontros com estas novas materialidades, vivemos grandes desafios. As crianças exploravam tudo o que estava disposto. Em um tempo curto, transitavam de um material para outro e, nesse movimento, os materiais ficavam pela sala. De um espaço convidativo, a sala passou a ter um aspecto de “desorganização”para nós adultos, mas para as crianças era um processo importante, afinal eram suas primeiras experiências com esses novos contextos e elas precisavam ter intimidade, testar, movimentar. Depois disso, precisávamos pensar junto com as crianças a organização do espaço. Aos poucos, elas foram percebendo e conseguindo experimentar outras lógicas, participando das decisões e pensando soluções para todas as questões que emergiam no convívio com as materialidades. O momento passou a ser muito pedagógico. Assim, deixamos à disposição na sala, como parte do espaço, também uma vassoura e uma pá, que em um primeiro momento eram de manuseio exclusivo dos adultos, mas que com o passar do tempo já eram utilizados pelas próprias crianças, que ajudavam na organização quando necessário. Como tínhamos os materiais armazenados emvidros, a pergunta quemais se ouvia era: –mas estes vidros não vão quebrar? Era uma pergunta pertinente, porém, era um risco que deveríamos correr,“pagar para ver”. E como sempre as crianças nos surpreenderame, para a alegria de todos, os vidros permaneciam intactos. Saber comomanusear essematerial foi tambémuma aprendizagempara todos, afinal de contas, em cada vidro havia algummaterial diferente, o que gerava uma nova percepção nomanuseio de formas e pesos. Foi através de uma escuta atenta e sensível que observamos as brincadeiras que aconteciam, documentamos diversos enredos que ora emergiam, ora retornavam. Com isso, percebemos as inquietações e os desejos das crianças por determinados temas. Entre eles, os principais foram: costura, pescaria, construção de jogos e a lenda de umgigante. Estar atenta às pistas que as crianças deixam fez toda a diferença nestemomento. A temática da costura surgiu a partir da pergunta da Isadora (cinco anos): – Prô, quando vamos ter Barbies na nossa sala? A partir dessa provocação trago as bonecas e começamos nossas produções. Construímos casas, fizemos oficinas commães de alunos da turma para confeccionarmos roupas comos mais variados materiais, visitamos estilista e produzimos todos os materiais do espaço como que havia na sala. Quem inquietou para as pescarias foi Augusto (cinco anos).Todos os dias, pegava omesmomaterial e pedia para fazer umanzol e, ali comos demais colegas, passava brincando de pesca. Percebi que poderíamos passar a investigar umpoucomais sobre o tema e assim começamos: tipos de peixes de água doce, salgada, mar, rio, açude, relatos das famílias que pescavam junto como registro de filhos e pais pescando. Convidamos a turma para passar uma tarde no pesque-pague da cidade e, para a nossa surpresa, quais foramas famílias que participaramdeste momento? As famílias dos meninos envolvidos como tema na escola. A lenda do gigante surgiu a partir de uma história que a educadora Fernanda Eger, da turma 3, sempre narrava ao passar por uma pedra na calçada no trajeto entre a escola e a Unidade do Sesc, nas ocasiões em que temos aulas de ginástica infantil ou atividades no Espaço Saber e Lazer. Cada vez que passávamos por ali, alguém subia na pedra, que é bemgrande, e assim surgiu“a lenda do gigante”. O tema rendeu inúmeras histórias nas turmas da escola: cada uma construiu seu gigante e, na nossa turma, confeccionamos tambémo espaço do gigante, uma réplica da calçada pela qual as crianças passam comumgalho simbolizando a árvore que tem lá e até uma pedra enorme ao seu lado. Para acomodá-lo no espaço demaneiramais confortável, convidamos as famílias para produzirempoltronas de caixas de leite. Jogos aparecem todos os anos nessa faixa etária. Acredito que jogando, muitas relações são estabelecidas no grupo. Como não poderia ser diferente, lançamos o desafio de transformar os objetos que havia na sala em jogos variados, sempre explorando todos os materiais não estruturados disponíveis nas prateleiras. OUTROS DESAFIOS Depois que as crianças viveram muitos enredos, cenários e investigações, me deparei com a reflexão que ter na sala somente materiais de largo alcance era ir de um extremo ao outro. Foi então que, São as crianças quem nos mostram os caminhos para que possamos elaborar planejamentos repletos de significados.
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