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7 EDUCA SESC 2018 O professor deve pensar sempre como equipe a organização do espaço pedagógico para que seus alunos trabalheme estudem. não mecânico, mas o esforço pela motivação. Há duas coisas que vêm de uma tradição pedagógica muito antiga e que continua atual, e que sem elas nada se consegue: motivação e atenção. Se não houver motivação ninguém aprende, não vale a pena. Eu sou contra as pedagogias autoritárias porque não levam a nada. Não adianta imaginar que a criança vai aprender pelo autoritarismo. Pelo contrário, cria um bloqueio. Sem motivação não há aprendizagem. Por outro lado, atenção. Vivemos em uma sociedade em que há uma grande dispersão. As crianças estão muito dispersas. Conseguem fazer o que eu não consigo, que é duas ou três coisas ao mesmo tempo e esse tema, relacionado à importância da atenção, é uma das questões centrais dos últimos estudos sobre o cérebro. Então o professor tem que ser capaz, utilizando a motivação, de fazer com que a criança foque a sua atenção em um determinado projeto, um determinado tema. COMO FAZER O ALUNO SE CONCENTRAR COM ESSA TENDÊNCIA DA ATUALIDADE QUE É A DISPERSÃO? Por que crianças e jovens, que muitas vezes dizemos que têm dificuldades de aprendizado, são capazes de se concentrar por muitas horas em uma determinada tarefa e não são capazes de passar cinco segundos em uma tarefa escolar? Observei um jovem colega de aula do meu filho. Era mais velho porque tinha sido reprovado várias vezes e totalmente irrequieto, todos os professores se queixavam, não se concentrava em nada nem por poucos segundos. Mas esse jovem praticava esporte. E quando praticava ficava concentrado de duas a três horas, às vezes, até o limite da sua força física, em um exercício, um treino. E não digo que aquilo seja interessante, jogar bola pode ser interessante, mas fazer um exercício repetitivo não é fácil. Por que ele conseguia fazer aquilo por três horas e não conseguia se concentrar cinco segundos em uma tarefa escolar? Essa é a pergunta que temos que nos fazer. Como conseguimos que a tarefa escolar seja suficientemente desafiadora e motivadora para ter a atenção das crianças? Eu acho que isso tem a ver com os ambientes educativos. Se conseguirmos reconstruir o ambiente educativo, poderemos conseguir muita coisa que não conseguimos no atual ambiente. É muito difícil conseguir essa mobilização da criança. VOCÊ É UM CRÍTICO DA PADRONIZAÇÃO, TANTO NO ENSINO COMO NOS MÉTODOS DE AVALIAÇÃO, E DEFENDE UM ENSINO INDIVIDUALIZADO E AO MESMO TEMPO COLABORATIVO. COMO FAZER ISSO ACONTECER? Um dos grandes temas da pedagogia, desde sempre, mas muito mal concretizado, é a ideia que cada criança aprende no seu ritmo e na sua lógica de desenvolvimento, ou seja, não existe duas crianças iguais. Há 100 anos dizemos isso. O psicopedagogo suíço Édouard Claparède (1873-1940) dizia que não entendia como dávamos o mesmo ensino a todas as crianças se não damos os mesmos sapatos a todas as crianças. Cada sapato tem que ser à medida do pé da criança. É tão disparatado dar o mesmo ensino a todas as crianças quanto dar o mesmo sapato, alguns vão ficar largos, outros pequenos etc. Isto é o que designamos diferenciação pedagógica, que tem como tema absolutamente central um ensino adaptado a cada criança. Mas como fazer isso com a estrutura do ambiente escolar formatado em sala de aula, que foi uma invenção notável no século 19 para ensinar a muitos como se fossem um só? Até então só havia o ensino tutorial. Temos registros de imagens em que 20 ou 30 alunos em uma sala aguardam sua vez de falar com o professor, que está sentado numa cadeira. Ninguém havia pensado que se podia falar ao mesmo tempo para 30 e, quando se inventa isso, há uma uniformização, uma padronização, uma normalização que teve fatores positivos, como a possibilidade de expandir o ensino da tão propagada escolaridade obrigatória. Nos tornamos capazes de levar a escola a todos, mas sem qualidade e sem conseguirmos atender a essas dinâmicas individuais. Hoje o nosso desafio é a individualização e, por isso, o professor deve ser um organizador do trabalho, um espécie de tutor e estar extremamente atento em sala de aula. Um grupo está fazendo uma coisa, outro grupo outra, um aluno estuda sozinho um outro projeto, e o educador deve estar extraordinariamente atento para ver quem precisa de um acompanhamento especial, uma palavra ou se precisa eventualmente sair da sala. Este é o papel de organizador, de tutor, e muito menos de um preletor. MUITOS CRÍTICOS DEFENDEM QUE HÁ FALHAS NA FORMAÇÃO DOS PROFESSORES, ENTRETANTO, PARECE QUE A TEORIA DA ACADEMIA NÃO CHEGA NA SALA DE AULA. COMO APRENDER A ENSINAR? A questão central e decisiva é a organização do tempo do professor. Há uma reconfiguração do trabalho do professor, que tem que estar presente também na sua formação, tanto a inicial quanto a continuada. Parece que hoje há uma espécie de buraco negro, um vazio, na formação do professor, porque repetimos os erros há 100 anos, e temos que repensar isso. Há muitas boas experiências localizadas, especialmente no Brasil, como as que acompanhei em Minas Gerais e na cidade catarinense de Blumenau. Porém, a mais estruturada está para ser lançada: o Complexo da Formação de Professores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). É uma grande inciativa, com muito apoio da reitoria e a da direção da Faculdade de Educação, mas que envolve toda a universidade. O projeto parte do princípio que não se consegue uma formação de professores apenas dentro da academia, porque não há o contato com as escolas, com a profissão, com outros professores. Mas as escolas por si só também não formam, porque são rotineiras, voltadas demais para a prática e, às vezes, são muito conservadoras. São pouco estimulantes do ponto de vista do lugar. Precisamos criar o que na literatura chama-se um terceiro lugar. Um lugar entre a universidade e a escola, que é esse complexo de formação de professores, onde está a universidade e onde estão algumas escolas diferentes que aderiram ao projeto e que, portanto, estão disponíveis para se organizarem de outra maneira, para ter outro tipo de pedagogia, transformando-se em escolas formadoras. Da junção dos universitários com essas escolas formadoras surge o espaço que é mais propício para a formação de professores.

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