Revista Sesc Arte e Educação 2024
18 Revista Sesc de Arte Educação vol.4 2024 de ser mais” que Paulo Freire (1987) aborda, portanto, permanece sendo constantemente anulada hoje em si- tuações concretas como a miséria, a desigualdade social, a exploração do trabalho, o racismo e a supressão da existência do outro. No livro Pedagogia do Oprimido, o educador indica e defende uma pedagogia em prol da emancipação de todos e que “só faz sentido se os oprimidos buscarem a reconstrução de sua humanidade e realizarem a grande tarefa humanista e histórica dos oprimidos – libertar-se a si e aos opressores” (FREIRE, 2002, p. 30). Assim, a pedagogia do oprimido só poderá se efetivar a partir do próprio oprimido, pois [...] É AQUELA QUE TEM DE SER FORJADA COM ELE E NÃO PARA ELE, ENQUANTO HOMENS OU POVOS, NA LUTA INCESSANTE DE RECUPERAÇÃO DE SUA HUMANIDADE. PEDAGOGIA QUE FAÇA DA OPRESSÃO E DE SUAS CAUSAS OBJETO DA REFLEXÃO DOS OPRIMIDOS, DE QUE RESULTARÁ O SEU ENGAJAMENTO NECESSÁRIO NA LUTA POR SUA LIBERTAÇÃO, EMQUE ESTA PEDAGOGIA SE FARÁ E REFARÁ. (FREIRE, 2002, p. 20). Na conduta do processo de cria- ção e pesquisa, as reflexões foram feitas a partir de aulas de teatro, pla- nejadas e executadas, tendo como inspiração os livros “200 Exercícios e jogos para o ator e o não ator com vontade de dizer algo através do Te- atro (1982) e “Jogos para atores e não atores” (2007), dois livros orga- nizados por Augusto Boal, drama- turgo brasileiro que sistematizou o Teatro do Oprimido (3) , ao descrever a proposta do jogo/exercício teatral e os acontecimentos que se deram a partir da proposição, com toda a sua efemeridade, observando o que a circunstância foi de fato e não o que poderia ter sido, e também do que foi dito pelos adolescentes sobre o que realizamos juntos, tentamos ex- plicitar e desenvolver o como dessa investigação, de modo a caminhar junto, dentro das experiências, além de articular tais vivências com os e as autoras pertinentes ao que propu- semos discutir. Nos nossos encontros, não che- gamos a praticar os métodos de TO (Teatro do Invisível, Teatro-Jornal, Teatro-Imagem e Teatro-Fórum) e, embora essa fosse a proposta inicial do processo, essa ideia foi sofrendo alterações. Percebemos que se tais experiências (relacionadas à prática das modalidades) fossem propostas, acabariam acontecendo de forma superficial. Entendemos que aquela era uma vontade da educadora colo- cada ao grupo, que poderia ter acon- tecido, mas precisaria tomar mais tempo de estudo e vivência coletiva. Além do mais, era uma ideia que já estava pré-estabelecida antes mes- mo de conhecer o grupo. Conhecer e perceber o grupo foi importante para que os rumos da pesquisa realmente tomassem caminhos mais coletivos. Metodologia: Adotamos a Prática Artística como Pesquisa (PaR) (4) , motor desta inves- tigação, ou melhor, a prática teatral como pesquisa, e é importante pen- sar os aspectos que a caracterizam dentro desse processo. O primeiro é o caráter corporal e que opera com modos de ação que envolvem o mo- vimento de invenção e reinvenção próprios das artes da cena na con- temporaneidade e também da pes- quisa. Umoutro aspecto seria que, ao pensar a pesquisa e a prática como modos de ação, demarca-se um ter- ritório político nessa escolha, pois há o esforço de afirmar os saberes das práticas corporais e artísticas como possibilidade de pesquisas de quali- dade no meio acadêmico e científico, na tentativa de investigar com rigor questões particulares geradas pelos processos criativos em teatro. Dessa forma, realizamos uma pes- quisa do caminhar, que traçou no per- curso suas possibilidades e desejos, com inspiração nos estudos e for- mas de fazer/criar/pensar que abrem novas possibilidades na pesquisa em arte. O reconhecimento da prática, especificamente da prática artísti- ca, como conhecimento no contexto 3 Esse método ou prática teatral ganhou força como resposta à ditadura civil-militar no Brasil. Te- atro-jornal, teatro-imagem, teatro do invisível, teatro fórum, formas teatrais que pretendiam dar respostas às questões sociais; o teatro como meio de analisar conflitos e apresentar alternativas. Um teatro que leva em conta a realidade social, econômica e política na qual se busca incidir de alguma forma. 4 Para saber mais sobre esse tema sugerimos as pesquisas das autoras Melina Scialom (UFBA) e Ciane Fernandes (UFBA).
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