Revista Sesc Arte e Educação 2024
26 Revista Sesc de Arte Educação vol.4 2024 são. Ainda que na fotografia houves- se uma cena com pessoas em uma cidade, nossos olhos estão acostu- mados às suas formas. A parte mais interessante é que não conseguimos ter certeza de nada que vemos, por- que não há detalhes, apenas man- chas, vestígios, impressões. Na leitura das imagens, os con- textos temporais movimentaram a pretensão de universalidade dos cos- tumes e das vivências representadas pela história das artes visuais. Os próprios pintores impressionistas se distanciaram dos temas históricos e mitológicos para representar o co- tidiano de pessoas de classe média francesa em seus passeios e ofícios. Por isso, “longe de serem meros re- flexos ou espelhos da realidade, as imagens são acréscimos, exceden- tes, adensando a complexidade do real” (SANTAELLA, 2014, p. 15), não são somente recortes ou escolhas de realidades a serem mostradas, mas invenções e narrativas que podem criar outras versões do real. Em sala de aula, falamos sobre movimentos europeus que revelam problemáticas muito profundas, como os aspectos pictóricos do im- pressionismo, expondo também as suas faltas para compreender que eles contam somente sobre uma história e dissimulam outras tantas, inclusive a nossa como brasileiros. Isso contribui para perturbar nosso hábito de replicar a hegemonia da história da arte pela forma como en- sinamos artes visuais em escolas. Raramente artistas não brancos são lembrados, como é o caso de Artur Timótheo da Costa, que teve questionada a sua participação no movimento impressionista, haja vis- ta que historiadores da arte, como Jorge Coli (2010), localizam a pin- tura do artista entre o neoimpres- sionismo e as novas vanguardas do século XX (3) . Embora não estivesse inscrito no movimento de fato, sua pintura apresenta características impressionistas e até uma ressig- nificação das temáticas do movi- mento ao mostrar minúcias do Rio de Janeiro não apenas em belas paisagens, mas com fragmentos da história da população negra da cida- de. Artur Timótheo da Costa ressig- nificou o impressionismo para tratar sobre questões suas e do Brasil a partir de seu contexto. O cinema impressionista também criava impressões ao mostrar deta- lhes sem nitidez representativa, ge- rando imagens através de cores, de sensações de luz e de movimento. Para experimentar esse modo de fa- zer impressionista, elaboramos um exercício realizado no pátio da es- cola para fotografar as luzes do dia e experimentar cores e movimentos através da lente do celular. Colamos pedaços coloridos de tecido na fren- te da lente da câmera, cobrindo-a parcialmente, pois interferia nas di- ferentes cores que iam se formando conforme a luz natural. O que se apresentou nas fotogra- fias tinha grande semelhança com pinturas impressionistas, inclusive remetendo às Nenúfares de Clau- 3 Ver mais sobre Artur Timótheo da Costa em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Artur_Tim%C3%B3teo_ da_Costa. Acesso em 20 de setembro de 2024. 4 Ver mais sobre a série em: https://pt.wikipedia.org/wiki/
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