Revista Sesc Arte e Educação 2024

30 Revista Sesc de Arte Educação vol.4 2024 Introdução: Este trabalho apresenta o pro- cesso de sensibilização voltado à formação de mediadores de leitura no encontro com a infância e o livro como extensão de seu corpo-árvore, sua palavra-vento e sua escuta-água, trazendo à tona a intersecção entre memória, infância e processos de mediação de leitura. Com a intenção de fazer aflorar a empatia na formação de media- dores, visando a sensibilização e vinculação com a literatura para a infância, a construção de novas prá- ticas, e a ampliação de repertório e acervo, fez-se necessário perguntar: • Que livro para a infância é esse? • A partir de quê infância se fala? • Para qual infância se dirige o livro designado a ela? Por conseguinte, foram arrolados os demais objetivos específicos que auxiliaram na fundamentação da pro- posta: • Experienciar o processo de sensibi- lização no encontro com a infância e o livro. • Realizar um percurso criativo de produção investigativa e textual, dia- logando com a poesia, a teoria e as artes visuais. • Explorar o território de mediação das crianças e docentes com o livro contemporâneo para a infância. • Imprimir a experiência através da escrita. • Escrever como exercício de aquisi- ção da história pessoal. • Proporcionar o “olhar de estranha- mento” como habilidade na investi- gação da infância. • Desenvolver o senso ético-estético- -afetivo na escrita do texto literário. Tendo como principais referências teóricas Luiza Christov, Jorge Larrosa, Yolanda Reyes, Bartolomeu Campos de Queirós e Stela Battaglia, desenvol- veu-se uma escrita de si literária e uma reflexão acerca da teoria e das práticas educativas somadas ao diálogo com um acervo de livros para a infância. Acolhendo a escrita mediadora: Contextualizando o objetivo princi- pal desta proposta, é importante con- siderar que existem condições ne- cessárias para o exercício da prática mediadora. Além da preparação do ambiente, da postura do mediador e dos recursos a serem utilizados, Bat- taglia afirma que “O acolhimento é a forma como se prepara o ambiente para receber, o que até pode ser sim- ples” (BATTAGLLIA, 2023, (excerto verbal)). Fundamental a relação que se estabelece na mediação, através do livro ou da história que se conta, do objeto ou da cantiga que se asso- via. O gesto, a palavra e a expressão linguística e corporal compõem um vasto acervo que se renova na práti- ca da relação com o público-alvo. Notas sobre a escrita de si: Nascemos como sujeitos: de uma forma particular, para a existência coletiva de um grupo, integrando-nos através da linguagem, sendo a escri- ta parte essencial desse processo nas culturas que a possuem como prática de registro: “[…] A linguagem, que é o pilar não apenas da escrita, senão da invenção de cada ser hu- mano” (REYES, 2012, p. 53). Christov avança um pouco mais, ao dizer que é também “Escrita experiência, essa escrita habitada, exposta, que se põe em risco, que anuncia territórios de origem de quem escreve” (CHRIS- TOV, 2023, p. 4). O percurso deste estudo foi me- diado pela provocação e inquietação, pelo autoquestionamento, observa- ção e contemplação da infância, posto como inerente à escrita de recorda- ções estruturantes da história de cada protagonista, a fimde provocar a capa- cidade de estranhamento em relação às infâncias. Larrosa corrobora esta asserção ao inferir que, NA MEDIDA EM QUE ENCARNA O SURGIMENTO DA ALTERIDADE, A INFÂNCIA NUNCA É O QUE SABEMOS (É O OUTRO DOS NOSSOS SABERES), MAS, POR OUTRO LADO, É PORTADORA DE UMA VERDADE À QUAL DEVEMOS NOS COLOCAR À DISPOSIÇÃO DE ESCUTAR […] DEVEMOS ABRIR UM LUGAR PARA RECEBÊ-LA (Larrosa, 2003, p. 186). Quanto mais poética a escrita puder se desenvolver, mais próxima estará da sua origem, ao tocarmos estilhaços do inconsciente, pois o ato de escrever revela “O que é aquilo que não sabemos que pen- samos” (REYES, 2012, p. 33). Essa autora ainda constata, a partir das práticas de mediação de leitura,

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