Revista Sesc Arte e Educação 2024

31 Revista Sesc de Arte Educação vol.4 2024 que escrever faz parte do processo de apropriação da história pessoal, que é dar existência àquilo que não se apalpava, pois que não havia cor- po para sua sustentação, ou seja, a palavra “[…] é arriscar a voz particular […]. Escrever é explorar nosso registro para saber quem somos, ou ao menos, tentar” (REYES, 2012, p. 38-39). Cenas do percurso criativo: Neste trabalho desenvolvi uma escrita de si literária, combinada com a escrita reflexiva acerca da teoria e da prática educativa, dia- logando com um acervo de livro ilustrado para o público infantil, se- lecionado especialmente para essa reflexão. Propagando-o através de reflexos em espelhos da poesia, da música popular brasileira, e em fotografias de álbuns de infância, segui a orientação de que “O texto acadêmico deve servir aos indícios de conexões, memórias e enfrenta- mentos. Deve servir para convidar aos conhecimentos” (CHRISTOV, 2023, p. 11). A escrita de pequenas crônicas e poemas, associada às cenas e às imagens surgidas no percurso da reflexão, partiram do afloramen- to da sensibilidade e da intuição, e orientaram os caminhos da imagi- nação e da escrita de si em prosa poética. Foram melodias e letras de música, leituras, experiências, brincadeiras, fios não desenrolados e pedaços de recordações. Tesse- las de mosaicos caleidoscópicos, em exercício criativo, compuseram o cenário do encontro com o livro para a infância que pertence a cada um de nós. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CHRISTOV, Luiza Helena da Silva. Escrita de si e texto acadêmico: potência e cuidados no convite ao conhecimento. São Paulo: UNESP, 2023. LARROSA, Jorge. A operação ensaio: sobre o ensaiar e o ensaiar-se no pensamento, na escrita e na vida. Educação & Realidade, [S. l.], v. 29, n. 1, 2004. Disponível em: https:// seer.ufrgs.br/educacaoerealidade/article/ view/25417. Acesso em: 2 abr. 2024. LARROSA, Jorge. Pedagogia profana: danças, piruetas e mascaradas. Belo Horizonte: Autêntica, 2003. QUEIRÓS, Bartolomeu Campos de. Ler é deixar o coração no varal. In: Seminário de Políticas de Incentivo à Leitura. Belo Horizonte. Anais […]. Belo Horizonte: Superintendência de Bibliotecas Públicas/ Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais, 2009. QUEIRÓS, Bartolomeu Campos de. Prefácio. In: LISBOA, Henriqueta; CRUZ, Nelson. O menino e o poeta: obra completa. São Paulo: Peirópolis, 2008. REYES, Yolanda. Ler e brincar, tecer e cantar: literatura, escrita e educação. São Paulo: Pulo do Gato, 2012. Espirais de encantamento A INFÂNCIA É POSSÍVEL DE SER REINVENTADA, SEMPRE. A CONDIÇÃO ESSENCIAL É NÃO MEDITÁ-LA COMO UM TEMPO PERDIDO E DISTANTE. E PARA SE TRAVAR UMA PROSA COM A INFÂNCIA É INDISPENSÁVEL A EXPERIÊNCIA DA CRIANÇA REENCONTRADA. Bartolomeu Campos de Queirós, In Lisboa, 2008 Passar pela experiência de sen- sibilização através da escrita, além de refletir sobre seu processo à luz das referências bibliográficas, reúne atributos imprescindíveis para a atu- ação na formação de novos media- dores de leitura e no aprofundamen- to de quem quer fazer este vínculo com a criança a partir de sua própria infância revisitada. Mediar é preciso, compreendendo que o livro como obra de arte é fruto da liberdade, da inventividade e da espontaneidade, e é nela que a in- fância buscará refúgio para crescer frente ao inédito. A fantasia seguirá seu papel: o de oferecer eternamen- te a chave do quartinho do Barbazul, para que nossa criança avance por novos espaços de expressão e en- tendimento de mundo.

RkJQdWJsaXNoZXIy NjI4Mzk=